Eu
estava ali, um tanto
Tonto.
Atônito. Paralisado.
O
som das chaves virando
E
secamente destrancando
A
porta.
Havia
um sinal em sua nuca.
Queria
beijá-lo. Beijá-la
Cheirá-lo.
Senti-la.
Mas
o peito fumegava
Eu
me afogava em terra firme
Fechei
os olhos, a porta rangeu.
Senti
uma leve brisa
Cheiro
de jasmim e canela
Deu
dois passos, acendeu a luz
Convidou-me
a entrar
“Pronto”,
eu sabia.
Em
breve, morreria.
Seus
brincos tilintando em suas orelhas
O
colo impecável, sedutor
O
sorriso, os lábios molhados...
A
extrema-unção me aguardava.
O
que havia de forte em mim
Se
fora.
Trancou
a porta. Voltou-se. Encarou-me.
- O
que quer?
Eu
ouvia o som das batidas no peito
Como
os tímpanos de uma orquestra
- Quero
sentir o aroma de tua nuca
Sorriu.
Despretensiosa. Sem malícia.
Apenas
soberana.
Beijei-a
com força, sem jeito, faminto
Mordi a boca por acidente,
Meti a língua nos seus dentes...
Agonia,
sofreguidão, pavor
Um
desalento, uma tristeza.
Um
choro que não chora
Sem
lágrima. Apenas suor e mucos.
Minhas
mãos subiam, desciam, passeavam
Perdidas,
tontas, bobas. Apertavam e soltavam,
Puxavam
e sentiam. Respirava seu hálito,
Engolia-o,
envenenava-me dela.
“Por esta santa unção e pela Sua infinita misericórdia”...
Contra o chão duro, frio,
A
pele macia e quente.
Os
seios me encaravam, preguiçosos, sonolentos
Despertei-os
com minha saliva. Arrepiei-os com minha língua.
Ouvia
os sussurros, os convites para o suplício magnífico
Meu
peito se apequenava. Eu me apequenava, e quase
Me acovardava!
Porque todo oásis daquele corpo
Estava
ali para que eu bebesse e comesse,
E
eu queria! E como queria! E como quis!
Como
escrevi sobre isso, como gozei por isso,
Como
imaginei aquela posse, aquela data, aquela hora,
Aquele
chão, aquela morte! E no fim,
No
ato final,
Tudo
era verdade. E tudo era grande.
E tudo era...sublime!
“...o
Senhor venha em teu auxílio”...
Sua
mão tateou minha pélvis, tomou das calças o que queria
E me
meteu em si mesma. Assim, sem mesura
Como
se eu fosse um objeto.
Uma
coisa subalterna e inanimada
Uma
coisa DELA!
Enchi-me
de ânsia, esperma e fúria!
Enterrei-me,
forcei-me, joguei-me
Como
herói que desmantela um covil
De
ladrões, assassinos, monstros!
“...com a graça do Espírito
Santo, para que, liberto dos teus pecados...”
E dentre os pecados, o meu era pior
Porque
me julguei capaz de suportá-la
De abarcá-la e apreendê-la e talvez - pobre de mim!
Vencê-la.
Mas sua
testa franzida, sua boca entreaberta
Seus
gemidos vadios, suas palavras chulas
Suas
unhas vermelhas riscando meu peito...
Sua
vulva me mastigando, engolindo, sufocando
Me
roubando, me levando, me vencendo
Fechei
os olhos. Eu estava findado
Fadado.
Fodido!
Por
crer ingenuamente que podia.
Por
crer estupidamente que EU fodia!
“...Ele te salve e, na Sua misericórdia...”
Senti
o terremoto em seu corpo.
Convulsões
e espasmos.
Os
larápios do covil brindavam, embriagados
Eu
seria abatido, fácil e rápido
Como
ovelha mansa no pasto
Bastava
um golpe. Um último
Murro
no colo do útero
“...alivie os teus sofrimentos”.
Gozei.
Quente, dolorido e intenso.
Matei
seus bandidos, minha bela senhora!
Afoguei-os
no mar branco
Das
minhas entranhas.
Caí
no orvalho morno daqueles seios
Acesos
e vívidos.
Felizmente,
estou morto.
Aqui
jazo.