terça-feira, 13 de agosto de 2024

Dê-me seu corpo



Dê-me seu corpo.

E somente isso será suficiente

Muitas exigem

Seu coração

Alma

E inegociável fidelidade

Sua atenção e carinho

Seu tempo e sua vida.

Mas eu? 

Eu quero apenas seu corpo. Um pouco.

Cansado, sofrido, preocupado

Distraído, insolente, magoado

Solicito, por um tempo, seu corpo

Para que, no meu,

Se aplaque a ânsia e a vontade

Que você mesmo plantou.

Dê-me seu corpo, um pouco

E o farei vívido, aceso, um tanto.

Prometo, sairei de ti

Tão logo eu saia de mim.

sábado, 23 de março de 2024

Fogo-fátuo

 


Você viu, ali?

No meio do nada, na escuridão,

Bem no silêncio, aquela explosão?


Você sentiu, ali?

No meio de si, onde as coxas se tocam

Vindo de dentro aquele tesão?


Você saiu, dali?

Do mesmo lugar em que sempre esteve

E de onde cuspiu tanta coisa em vão?


terça-feira, 11 de julho de 2023

GOZO É RIO



Sabe...eu queria trepar com você. 

Mas eu queria trepar com um "tu" de hoje, de agora, desse momento. 

Repleto das dores e aflições e tristezas atuais. 


Eu queria sentar em você. 

Cavalgá-lo, domá-lo, apertá-lo, completá-lo. Até lá: o talo!

Mas queria uma montaria sem tanto ontem, sem tantos anos atrás 

E ainda tão atuais. Sem tantos ecos audíveis de vozes antigas

Já tão conhecidas, e velhas e roucas.


Queria foder você. Com você. Sobre você.

Embriagar teu pau escuro com meu sumo delicioso

Cheio de tesão, cheirando a gozo e loucura.

Mas queria que você fosse novo. Renovado.

Sem tanto passado presente

Sem esse cheiro de mofo, sem essa cor arcaica

Sem esse pretérito puído que você não solta!


Queria comer você. Inteiro, sem exceção nem restrição

Sem roupas, disfarces, amarras ou pudores

Sem ressalvas, limites, receios, jogos, mentiras

Sem os freios e os "talvezes".

Mas apenas se você estivesse aqui.

No hoje! 

Filho de um agora livre

E bem resolvido.


Veja, meu bem,

Meu gozo é rio: 

É corrente

Vigente

Crescente

Recente

PRESENTE!






segunda-feira, 3 de julho de 2023

VERSINHOS BANAIS

 




Eu já tinha combinado

Na verdade, avisado:

Que ficasse resignada

Ao final, restaria nada.

 

Nos encontramos, e era o fogo

O suor, a saliva, a ardência e o gemido

Era a mão gelada e o seio quente

Era a língua e o lábio e a libido.

 

Olhava-me com feliz tristeza

Enquanto arrancava suas calcinhas

E por um minuto, tive quase certeza:

Há muito não-dito nas entrelinhas.

 

Me beijava me sufocando

Puxava meus cabelos, mordia meu queixo

Arranhava-me as costas, dizendo:

“Alguma marca eu te deixo! ”

 

E fui com tudo ao seu interior

Pra me unir em fusão nuclear

Ainda me sentia superior:

O topo é o lugar de quem golpear.

 

Mas eis que, dentro dela, mora um rio

Cristalino, profundo, revolto e traiçoeiro

Mergulhei nele, cheio de brio

E logo vi: daqui, não saio inteiro.

 

Fui engolido, tragado, afogado

Levado pro âmago, pro núcleo, pro centro

Tonto e sem ar, orgulho dizimado!

Suado por fora, vencido por dentro.

 

“Perdi!”, pensei ao gozar

Perdi a mim mesmo naquelas cavernas

E hoje só estou inteiro de novo

Quando me encontro entre suas pernas.

quinta-feira, 22 de junho de 2023

MEU SEXO

 



Meu sexo não distingue cor

Não tem tamanho

Tampouco limitações

Meu sexo sequer tem sexo!

É livre de rótulos e definições

Meu sexo não pensa

Não reflete

Não mede consequências

Meu sexo só quer

Ávido e urgente.

Meu sexo é antropofágico, canibal

Engole quem o alimente e desperte

Poucos o fazem...

Meu sexo é eclético, vasto. Leque aberto.

Seletivo, que contradição!

Meu sexo é engraçado

É um ator!

Se impõe firme e corajoso,

Quando deseja a servidão. 

Meu sexo é incomum

Meu sexo ferve e pulsa inquieto!

Honesto e despudorado

Instinto em sua essência

Meu sexo é negro e róseo

Velho e novo

Aveludado, suave

Venenoso 

Carnívoro e perverso

Meu sexo brota. Nasce. Floresce.

Meu sexo sente.

sexta-feira, 5 de maio de 2023

EXTREMA-UNÇÃO

 


Eu estava ali, um tanto

Tonto. Atônito. Paralisado.

O som das chaves virando

E secamente destrancando

A porta.

Havia um sinal em sua nuca.

Queria beijá-lo. Beijá-la

Cheirá-lo. Senti-la.

Mas o peito fumegava

Eu me afogava em terra firme

Fechei os olhos, a porta rangeu.

Senti uma leve brisa

Cheiro de jasmim e canela

Deu dois passos, acendeu a luz

Convidou-me a entrar

“Pronto”, eu sabia.

Em breve, morreria.

Seus brincos tilintando em suas orelhas

O colo impecável, sedutor

O sorriso, os lábios molhados...

A extrema-unção me aguardava.

O que havia de forte em mim

Se fora.

Trancou a porta. Voltou-se. Encarou-me.

- O que quer?

Eu ouvia o som das batidas no peito

Como os tímpanos de uma orquestra

- Quero sentir o aroma de tua nuca

Sorriu. Despretensiosa. Sem malícia.

Apenas soberana.

Beijei-a com força, sem jeito, faminto

Mordi a boca por acidente, 

Meti a língua nos seus dentes...

Agonia, sofreguidão, pavor

Um desalento, uma tristeza.

Um choro que não chora

Sem lágrima. Apenas suor e mucos.

Minhas mãos subiam, desciam, passeavam

Perdidas, tontas, bobas. Apertavam e soltavam,

Puxavam e sentiam. Respirava seu hálito,

Engolia-o, envenenava-me dela.

“Por esta santa unção e pela Sua infinita misericórdia”...

Contra o chão duro, frio,

A pele macia e quente.

Os seios me encaravam, preguiçosos, sonolentos

Despertei-os com minha saliva. Arrepiei-os com minha língua.

Ouvia os sussurros, os convites para o suplício magnífico

Meu peito se apequenava. Eu me apequenava, e quase

Me acovardava! Porque todo oásis daquele corpo

Estava ali para que eu bebesse e comesse,

E eu queria! E como queria! E como quis!

Como escrevi sobre isso, como gozei por isso,

Como imaginei aquela posse, aquela data, aquela hora,

Aquele chão, aquela morte! E no fim,

No ato final,

Tudo era verdade. E tudo era grande. 

E tudo era...sublime!

...o Senhor venha em teu auxílio...

Sua mão tateou minha pélvis, tomou das calças o que queria

E me meteu em si mesma. Assim, sem mesura

Como se eu fosse um objeto.

Uma coisa subalterna e inanimada

Uma coisa DELA!

Enchi-me de ânsia, esperma e fúria!

Enterrei-me, forcei-me, joguei-me  

Como herói que desmantela um covil

De ladrões, assassinos, monstros!

“...com a graça do Espírito Santo, para que, liberto dos teus pecados...”

E dentre os pecados, o meu era pior

Porque me julguei capaz de suportá-la

De abarcá-la e apreendê-la e talvez - pobre de mim!

Vencê-la.

Mas sua testa franzida, sua boca entreaberta

Seus gemidos vadios, suas palavras chulas

Suas unhas vermelhas riscando meu peito...

Sua vulva me mastigando, engolindo, sufocando

Me roubando, me levando, me vencendo

Fechei os olhos. Eu estava findado

Fadado. Fodido!

Por crer ingenuamente que podia.

Por crer estupidamente que EU fodia!

“...Ele te salve e, na Sua misericórdia...”

Senti o terremoto em seu corpo.

Convulsões e espasmos.

Os larápios do covil brindavam, embriagados

Eu seria abatido, fácil e rápido

Como ovelha mansa no pasto

Bastava um golpe. Um último

Murro no colo do útero

“...alivie os teus sofrimentos.

Gozei. Quente, dolorido e intenso.

Matei seus bandidos, minha bela senhora!

Afoguei-os no mar branco

Das minhas entranhas.

Caí no orvalho morno daqueles seios

Acesos e vívidos.

Felizmente, estou morto.

Aqui jazo.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

ESPECTRO

 


Desejo aflita.

Sonho acordada.

Queimo molhada.

Buscando preencher-me do que não tenho.

Como pode?

Como pode isso não ter morrido?

Secado, evaporado, desaparecido?

Como pode você estar tão aqui?

Como posso ainda gozar por um espectro,

Uma sombra do ontem?

Te exorcizo!

Te expulso, te esconjuro!

Te ordeno que abandone meu corpo

E pensamentos!

Ou que me leve de uma vez!

Que me deixe aprisionar-te dentro de mim

Como prisioneira estou agora...

sábado, 12 de fevereiro de 2022

PUTA

 


Ela era uma puta!

Puta das mais genuínas que já conheci.

Batom vermelho nos lábios ferozes

Decotes e rasgos e roupas curtas

Saias e seios

Quase encobertos

Por finas blusas de algodão

Puta

Havia lido muito

Viajado muito

Trabalhado o mundo

Beijado um tanto

Bebido o pranto

Trepado fundo

E gozado oceanos

Molhados e quentes

Sobre tantos e tantas

Soberanos e Anas

Aquela puta

Que não se calava

Que não se dobrava

Que olhava sórdida

Minha vã tentativa de domá-la e contê-la

E guardá-la

Puta, puta, puta!

- Puta é mulher da vida! Mulher vivida, mulher vívida!

Pois que em seu vocabulário,

Puta é livre!

Puta é ser e viver

Sem nada dever.

E perto desta grande, enorme, grandiosa, infinita puta

Minha mediocridade

É bruta.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

PECADO

 


Peço perdão aos céus.

Peço perdão àqueles cuja moral é cristalina.

Peço perdão aos inocentes de espírito e coração.

Pois eu pequei! Pequei em pensamento.

Pequei porque quis um moço proibido.

Uma face pueril num corpo másculo, forte.

Pequei porque o quis.

Pequei por que o quero.

Pequei porque o sinto e o devoro em minhas fantasias.

Pequei porque deitei-me sobre ele

E o deixei deslizar-se dentro de mim

Com a face assustada e fascinada

Por possuir uma mulher pronta.

Inteira.

Verdadeira.

Insana e sensual.

Pequei porque retirei do seu corpo jovem

Não apenas seu branco e doce néctar

Mas talvez algum remanescente de inocência.

Por ter mostrado o que seus olhos talvez não pudessem ainda ver.

Por ter dito palavras que talvez não estivesse preparado para ouvir.

Por tê-lo feito se contorcer de prazer

Tão intenso quanto um soco no estômago.

Por ter me masturbado ao imaginar seus gemidos

Saídos de sua boca nova, vermelha.

Tal qual fruta acabando de amadurecer.

Ah, eu pequei!

Eu peco.

E eu peço por ele

Todas as noites

Entre as pernas.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

ANIMALESCA

 



Aquele não era um dia ordinário para ela. Sentia uma fúria latente, algo que desconhecia até então. E temia.

Por isso, quando o homem adentrou seu quarto, ele percebeu no olhar feroz e insano da mulher que aquele não seria um encontro comum, casual e simples.

Não sorriu pra ele. Fitou-o com descaso. Ordenou-lhe que tirasse os sapatos e vestimentas.

Ela usava um vestido vermelho, justo, acetinado, até os joelhos. Meias pretas, cinta-liga, salto alto...toda a indumentária própria das fantasias masculinas.

Ele afundou-se no colchão de molas já gastas. E aguardou por ela.

Com uma expressão demoníaca no rosto, ela montou sobre seu corpo, apenas levantando o vestido e revelando sua vulva nua, ardente, carnívora.

Sem cerimônia, começou a cavalga-lo despreocupadamente. Fechou os olhos e era como se ele não estivesse lá. Era apenas ela, um pau entre suas pernas e o prazer.

Ele gemia, exaltava seu corpo, suas curvas, seu pleno domínio. Ela sequer o escutava.

Passou a acelerar o ritmo, a aprofundá-lo dentro de si mais e mais. Ele não parecia apto a aguentar muito tempo, pois tudo o que ele via e sentia o excitava loucamente. Ela o excitava, o provocava. Tirava-o da órbita cotidiana e o conduzia a lugares úmidos, escuros, fumegantes, claustrofóbicos.

Deixou escapar um bramido profundo. Havia gozado. Havia sido atingido, vencido, dominado.

Mas ela continuou cavalgando-o. E pra ele, o prazer transformava-se agora em angustiante dor. E para ela, aquela dor despertava em si um instinto dos mais selvagens.

- Dá uma paradinha, tá incomodando! - ele suplicou.

Em resposta, ela cravou as unhas em seu rosto. Era pura fúria sádica. E quanto mais o rosto do homem se franzia em dor, mais prazer ela sentia.

Mordeu e sangrou-o os lábios.

Arranhava seu torso alvo e delicado.

Puxava-lhe os cabelos.

Ele queria defender-se daquele animal indócil. Mas não conseguia. Era brinquedo em suas mãos.

Ela gritava! Jogava as próprias ancas contra as dele. Os ossos doíam. As costas doíam. Suavam em bicas. Seus hálitos misturavam-se, sufocava-os!

E então, sentiu a implosão uterina, o contrair da vagina, o tilintar latejante do clitóris.

Não tinha havido orgasmo tão excruciante como aquele até então.

Jogou o corpo exausto pro lado.

Ficaram em silêncio, olhos fechados.

Certamente pensando que o desejo pode ser transformado n'algo colossal e perverso se deixado livre.

Totalmente livre.