quarta-feira, 22 de setembro de 2021

A ESPERA

 


Um dia, num Janeiro

Ela o conhece.

Atraente. Nada demais.

Ele, indiferente.

Ela, idem.

Os dias passam

E algo no olhar, talvez no sorriso

Desperta nela um leve interesse.

E aos poucos, como a areia que cai fina numa ampulheta

A imaginação põe-se a trabalhar

Nas camisas

Nas calças

No aroma fresco de loção pós-barba

Nos loiros cabelos molhados

E quantas ali não deviam pensar o mesmo?

Ele, insolente.

Ela, curiosa.

Já último dia

E um desejo que tornara-se insustentável

Havia fracassado em refrear os impulsos

Mais uma vez, a carne triunfava sobre ela

E a enfraquecia.

Ela propôs.

Ele, timidamente, aceitou.

Eis que depois nada aconteceu.

"Tempos difíceis" - ele dizia.

E aos poucos o fogo diminuiu

Até apagar-se

Ou tornar-se brasa morna

Que dificilmente inflamaria novamente.

Ao menos era o que ela imaginava...

Meses depois, um novo encontro.

E pronto!

Brasa acesa!

Faíscas!

Ela incendiou-se.

E voltou a querer

Até cansar, e odiar, e maldizer!!

E voltar querer.

Ela, desejo.

Ele, soberba.

De atração, virou tormento!

Esfregava-se na cama antes de dormir

Apertava a vulva, tentando calá-la

Queria arrancá-la de si!

Pois dali nascia uma ideia fixa, um vício tortuoso.

Ela, pecado.

Ele, incógnita.

Um dia enfim

Um encontro furtivo.

Ela estava quente!

Como só uma mulher insana de vontade consegue estar.

Quente, úmida, latejante.

Ele a beijou e abraçou

E ouviu-a rogar impaciente:

"Me come!"

Em ambos, o fogo.

Teve a vulva ainda mais alagada

Por sua língua áspera e inquieta.

Mas sacana quer sacanagem...

E quer logo, de uma vez!

Já não suportava mais a espera

E implorou novamente: "Me come!!"

Moço obediente...

Ele meteu.

Ela gemeu.

Sentiu seu peso sobre ela

Cintura, costas, nuca

Sentiu, sentiu, sentiu

Ele finalmente nela

Inteiro!

E de tão acesa, e de tão ávida e de tão ansiosa que estava

Ela desaguou num orgasmo vigoroso

Ele continuou

Ela tremeu

Ele sentiu

E gozou

Irrompendo-se exausto dentro dela

E exatamente agora

Ela acaricia o próprio corpo

Embriaga-se de si mesma

Querendo de novo.

E de novo.

Esperando...

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