segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

ANIMALESCA

 



Aquele não era um dia ordinário para ela. Sentia uma fúria latente, algo que desconhecia até então. E temia.

Por isso, quando o homem adentrou seu quarto, ele percebeu no olhar feroz e insano da mulher que aquele não seria um encontro comum, casual e simples.

Não sorriu pra ele. Fitou-o com descaso. Ordenou-lhe que tirasse os sapatos e vestimentas.

Ela usava um vestido vermelho, justo, acetinado, até os joelhos. Meias pretas, cinta-liga, salto alto...toda a indumentária própria das fantasias masculinas.

Ele afundou-se no colchão de molas já gastas. E aguardou por ela.

Com uma expressão demoníaca no rosto, ela montou sobre seu corpo, apenas levantando o vestido e revelando sua vulva nua, ardente, carnívora.

Sem cerimônia, começou a cavalga-lo despreocupadamente. Fechou os olhos e era como se ele não estivesse lá. Era apenas ela, um pau entre suas pernas e o prazer.

Ele gemia, exaltava seu corpo, suas curvas, seu pleno domínio. Ela sequer o escutava.

Passou a acelerar o ritmo, a aprofundá-lo dentro de si mais e mais. Ele não parecia apto a aguentar muito tempo, pois tudo o que ele via e sentia o excitava loucamente. Ela o excitava, o provocava. Tirava-o da órbita cotidiana e o conduzia a lugares úmidos, escuros, fumegantes, claustrofóbicos.

Deixou escapar um bramido profundo. Havia gozado. Havia sido atingido, vencido, dominado.

Mas ela continuou cavalgando-o. E pra ele, o prazer transformava-se agora em angustiante dor. E para ela, aquela dor despertava em si um instinto dos mais selvagens.

- Dá uma paradinha, tá incomodando! - ele suplicou.

Em resposta, ela cravou as unhas em seu rosto. Era pura fúria sádica. E quanto mais o rosto do homem se franzia em dor, mais prazer ela sentia.

Mordeu e sangrou-o os lábios.

Arranhava seu torso alvo e delicado.

Puxava-lhe os cabelos.

Ele queria defender-se daquele animal indócil. Mas não conseguia. Era brinquedo em suas mãos.

Ela gritava! Jogava as próprias ancas contra as dele. Os ossos doíam. As costas doíam. Suavam em bicas. Seus hálitos misturavam-se, sufocava-os!

E então, sentiu a implosão uterina, o contrair da vagina, o tilintar latejante do clitóris.

Não tinha havido orgasmo tão excruciante como aquele até então.

Jogou o corpo exausto pro lado.

Ficaram em silêncio, olhos fechados.

Certamente pensando que o desejo pode ser transformado n'algo colossal e perverso se deixado livre.

Totalmente livre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário